O grande encontro do erudito com o popular

Seu Sebastião Francisco veio pela segunda vez para a Feira Literária de Mucugê. Morador da zona rural de Palmeiras, município vizinho de onde acontece a Fligê. Estava trabalhando, vendendo salgados numa barraquinha instalada na rua. O trabalho já tinha terminado quando a Orquestra Conquista Sinfônica começou a se apresentar na Praça dos Garimpeiros, encerrando a programação da feira. Ele e a esposa foram pra lá assistir.

Curioso e atento ao palco, queria saber os nomes dos instrumentos. “Só sei que esses da frente chamam violinos”, disse. Depois perguntou de onde eram os músicos. “É de Salvador, é?” Ficou mais surpreso ao saber que eram de Vitória da Conquista. O maestro João Omar de Carvalho Mello regia Asa branca quando ele contou que era a primeira vez que assistia uma apresentação como aquela. “Na minha cidade nem tem como ter, não tem lugar pra acontecer isso não”, lamentou e aplaudiu empolgado a execução da última música.

São pessoas como o Seu Sebastião que a Orquestra quer, também, alcançar. Com o concerto Sinfonia Popular, o grupo apresenta canções conhecidas, de apelo mais popular, com uma nova roupagem, a erudita. Além da canção eternizada por Luiz Gonzaga, Bicho de sete cabeças, de Geraldo Azevedo; Tropicália, de Caetano Veloso; Nossa canção, de Roberto Carlos; e até Flores em você, do Ira! fazem parte da seleção musical. “A música erudita é para todas as pessoas”, disse, ainda do palco, o maestro João Omar.

“Aqui é um encontro, aqui a gente encontra escritores, descobrimos escritores, descobrimos artistas, músicos, descobrimos pessoas que nos abrem a casa delas. A Fligê é um local de encontrar e isso significa encontrar outros trabalhos, outras lógicas, encontrar de forma mais aberta. A gente está precisando abrir mais a cabeça do mundo, o coração e as mentes, não só para as artes, mas para uma consciência de humanidade, para afetos, aqui existe encontros de afetos”, justificou o fato do encerramento da Fligê ser realizado, desde a sua primeira edição, com a apresentação de uma orquestra, indo ao encontro de pessoas como Seu Sebastião.

Sobre a programação, o maestro considera importante o diálogo entre as diversas linguagens e defende que tem espaço para todas. “A leitura abre a gente para horizontes, nosso horizonte é o mundo e a gente pode dialogar com o mundo, falar o que somos e o que temos de mais belo. A Fligê contempla essa diversidade de manifestações, desde a música que é para criança, música para o jovem, para aqueles mais adultos, e a música erudita, essa linguagem de instrumentos sinfônicos está quebrando essas fronteiras, mostrando que na realidade a gente pode transitar por todos esses cantos, basta abrir um livro, uma partitura”.

Texto: Ailton Fernandes | Fotos: Lari Carinhanha


Galeria de Fotos