Mulheres no poder: o golpe e a reflexão sobre gênero no Brasil

Uma mesa feminina e um público predominantemente feminino tomaram conta do último Rota da Palavra VIII, ocorrido na tarde deste domingo, 19. A mesa mediada por Luciana Silva com a participação da jornalista e professora Linda Rubim e da secretária estadual de Políticas para Mulheres, Julieta Palmeira, trouxe o tema Literatura: gênero e política, com discussões centradas no livro O golpe na perspectiva de gênero, que tem como uma das organizadoras a professora Linda Rubim. 

Entre as autoras do livro estão diversas mulheres que ocupam ou ocuparam cargos públicos, como ex-ministras, professoras, senadoras e também da vereadora assassinada recentemente, Marielle Franco. Em sua fala, Linda relaciona o fato do afastamento da presidenta Dilma Rousseff do poder estar diretamente relacionado ao que ela caracteriza como “um golpe de gênero”. Linda traz para as discussões a importância de como a ocupação de cargos públicos por mulheres pode ser um agente transformador para a sociedade, inclusive para o amadurecimento da política brasileira. 

Para Linda Rubim, além do golpe parlamentar, jurídico e midiático ocorrido no período do impeachment, o fato de uma mulher ocupar um lugar de relevância na política incomodou parte da sociedade, desde a representação de Dilma estereotipada pela mídia, com as críticas do uso do termo “presidenta”, por exemplo, até a assertividade de Dilma, abordada pela imprensa como agressiva e incômoda e, ao mesmo tempo, destacada em políticos do sexo masculino.  

Julieta Palmeira falou dos retrocessos, mas lembrou ainda que hoje há um maior enfrentamento do machismo, com a realização de eventos como a Fligê e tantos outros que acontecem pelo Brasil. Sobre o livro, a secretária afirma que “ao tentar discutir, trazer pra gente essa ideia do que aconteceu, como é que se deu, porque era uma mulher também, isso nos traz uma grande contribuição, para essa nossa luta, para o feminismo, mas mais do que para o feminismo, para a sociedade brasileira”. 

Convidada para participar da programação da Fligê 2018, a escritora e professora Rita Santana acredita que discussões como as que foram trazidas para o evento fazem com que as mulheres se conscientizem e estejam mais fortes. “É revolucionário e emocionante o que acontece na Fligê. Imagine essa população tendo contato com esses intelectuais e essas intelectuais, tendo contato com essa visibilidade negra, empoderada e eu faço parte disso com muita honra de ter participado de uma mesa tão profundamente revolucionária, uma mesa apaixonada, onde essas reflexões: ‘respeita as mina’, essa fala toda, veja como essa fala se reproduz no meu discurso, no discurso de outras escritoras que estiveram aqui, no discurso de outras professoras que ocuparam a mesa”, destaca. 

Texto: Indhira Almeida | Fotos: Vinícius Brito


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