Ana de Hollanda canta os 60 anos da Bossa Nova na Fligê

Aos versos de Chega de saudade, obra-prima de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, a cantora Ana de Hollanda iniciou a segunda noite da Fligê cantando os 60 anos da Bossa Nova ao lado do violonista e arranjador Alexandre de La Peña. A cantora e compositora carioca foi a atração do Conversa Cantada, nesta quinta-feira, 17, mediado pelo professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Uesb, Paulo Pires.

Ana de Hollanda homenageou o movimento cultural que revolucionou o cenário musical brasileiro ao final dos anos 1950 em sua primeira participação na Fligê. Ao longo do repertório, que incluiu também as canções Felicidade, Dindi e Hô-ba-lá-lá, a cantora contava histórias da época e detalhes de bastidores.

“A gente está contando aqui os 60 anos de um movimento que pouca gente que está participando da feira hoje pôde conhecer. Dessa geração presente, quase ninguém tem sessenta anos, nasceu depois, já não tinha Bossa Nova, mas ouviu falar do movimento, da força que teve tudo isso”, disse.

Ana, que também foi ministra da Cultura durante o primeiro governo da ex-presidenta Dilma Rousseff, acredita que as feiras literárias devem ter esse papel, o de instruir as novas gerações, de abrir novos horizontes, formar novos leitores, pensadores do mundo, que poderão contribuir para a transformação da realidade.

“Eu sempre defendi essas feiras. Quando eu estava no Ministério, a gente conseguiu dobrar o número de feiras e é sempre importante que elas aconteçam em municípios pequenos, pois, em vários deles não existem nem livrarias, nem bibliotecas, é uma forma da criança ter acesso à informação, porque, em contato com escritores e com pessoas que vivem da reflexão e da criação, eles entendem que eles podem criar e se libertar de momentos difíceis, de opressão, como este que a gente está vivendo com o golpe”, ressaltou.

A artista comentou ainda sobre o tema escolhido para a edição deste ano da Fligê, Literatura e resistência, que destaca o protagonismo da mulher na literatura e o feminismo.

“Essa luta é uma luta que tem que se colocar na criança, nas meninas que vão ser mulheres, nos meninos que vão ter que respeitar as mulheres. Então, é importante que a Fligê tenha levantado essa questão. Estamos vivendo esse momento de grandes conflitos entre um conservadorismo, que quer voltar com toda força, e os movimentos das minorias, mulheres, afrodescendentes, LGBT. Acho ótimo as pessoas dizerem ‘eu sou o que eu sou e ninguém tem nada a ver com isso’. A gente é o que a gente quer ser”, defendeu Ana de Hollanda.

Texto: Débora Silveira | Fotos: Ailton Fernandes


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