Diversidade e resistência não é só papo de gente grande

Fligêzinha traz temas complexos e profundos de forma lúdica em uma contação de histórias para os pequenos

Democratização é palavra-chave para a Feira Literária de Mucugê. Por isso, conta com um espaço para abarcar também as crianças que percorrem as ruas da cidade durante o evento, a Fligêzinha, cuja proposta é a de envolver os pequenos leitores em atividades culturais de forma lúdica, com música, teatro, contação de histórias…

Na manhã desse domingo (18), a atriz Flávia Pacheco abordou temas profundos, tratando sobre questões dos povos originários, diversidade, ancestralidade, memória e resistência. Para isso, realizou a contação de “Dandara e Kenderê”, escrita por Maria Graças Salles.

Para que as crianças assimilassem os temas densos propostos, Flávia transmitiu a história não apenas através da palavra contada, mas também com cantos, brincadeiras, danças e cantigas. Ela conta que, para que as crianças façam a imersão na narrativa, utiliza ferramentas lúdicas. “Primeiro é feita uma preparação para que as crianças entrem na história, começando por sentir o enredo para depois escutá-la”.

A história contada por Flávia aborda, através da ficção, o fato histórico da formação dos quilombos de Rio de Contas: a comunidade quilombola descende de escravos que estavam a bordo de um navio negreiro que naufragou na costa baiana. Os sobreviventes, seguindo o curso do Rio das Contas, chegaram à cidade da Chapada Diamantina, se instalando na margem do atual Rio Brumado onde hoje remanescem e resistem.

Flávia se apresenta orgulhosamente como griô aprendiz. “O griô é um mestre que traz, em sua ancestralidade, saberes. Ele tem a missão de circular entre as aldeias, os lugares, contando as histórias do nosso povo.  O griô aprendiz, por sua vez, é uma pessoa que circula entre a tradição oral e a escola, a universidade, ou seja, a educação formal”.

O momento também dialogou com a poesia de Castro Alves, homenageado desse ano da Fligê. “Escolhi a história de Dandara, porque fala sobre diáspora, sobre os navios negreiros e tem tudo a ver. Traz para as crianças essa atmosfera que é falada em várias linguagens, mas que pra criança precisava ser falada através da linguagem delas, dos bonecos, dos instrumentos musicais, danças, cantigas”.

Hendye Gracielle, produtora da CazAzul na Fligêzinha, afirma que “integrar o público infantil na Feira Literária é um movimento essencial, que acreditamos deva ser cada vez mais ampliado e potencializado. Representa a possibilidade dessas crianças se tornarem não apenas leitores, mas produtores da literatura do futuro, com reflexão, pensamento crítico e consciência social”.

Texto: Érika Camargo | Fotos: Thiago Gama


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